Antnio Carlos Jobim — Monólogo de Orfeu

Mulher mais adorada Agora que não estás Deixa que rompa o meu peito em soluços Te enrustiste em minha vida E cada hora que passa é mais porque te amar A hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada E sabes de uma coisa? Cada vez que o sofrimento vem Essa saudade de estar perto, se longe Ou estar mais perto, se perto Que é que eu sei! Essa agonia de viver fraco O peito extravasado, o mel correndo Essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu Tudo isso que é bem capaz De confundir o espírito de um homem Nada disso tem importância Quando tu chegas com essa charla antiga Esse contentamento, essa harmonia, esse corpo! E falas essas coisas que me dão essa força Essa coragem, esse orgulho de rei Ah, minha Eurídice! Meu verso, meu silêncio, minha música! Nunca fujas de mim Sem ti sou nada, sou coisa sem razão, jogada Sou pedra rolada Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível A existência sem ti É como olhar para um relógio só com o ponteiro dos minutos Tu és a hora, és o que dá sentido e direção ao tempo Minha amiga mais querida Qual mãe, qual pai, qual nada! A beleza da vida és tu, amada Milhões amada! Ah! criatura! Quem poderia pensar que Orfeu Orfeu, cujo violão é a vida da cidade E cuja fala, como o vento à flor, despetala as mulheres Que ele, Orfeu, ficasse assim rendido aos teus encantos? Mulata, pele escura, dente branco Vai teu caminho que eu vou te seguindo no pensamento E aqui me deixo rente quando voltares, pela lua cheia Para os braços sem fim do teu amigo Vai tua vida, pássaro contente Vai tua vida que eu estarei contigo


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