Ary Barroso — Camisa Amarela

Encontrei o meu pedaço na Avenida de camisa amarela Cantando a Florisbela, oi A Florisbela Convideio-o a voltar pra casa em minha companhia Exibiu-me um sorriso de ironia E desapareceu no turbilhão da Galeria Não estava nada bom O meu pedaço, na verdade, estava bem mamado Bem chumbado, atravessado Foi por aí cambaleando Se acabando num cordão Com o reco-reco na mão Mais tarde, o encontrei num café Zurrapa do Largo da Lapa Folião de raça Bebendo o quinto copo de cachaça Voltou às sete horas da manhã Mas só na quarta-feira Cantando a Jardineira, oi A Jardineira Me pediu, ainda zonzo, um copo d'água com bicarbonato O meu pedaço estava ruim de fato Pois caiu na cama e não tirou nem o sapato Roncou uma semana Despertou mal-humorado Quis brigar comigo Que perigo! Mas não ligo O meu pedaço me domina, me fascina, ele é o tal Por isso não levo a mal Pegou a camisa A camisa amarela Botou fogo nela Gosto dele assim Passada a brincadeira Ele é pra mim (Meu Senhor do Bonfim!)


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