Castro Alves — Os Anjos da Meia-Noite

I Quando a insônia, qual lívido vampiro, Como o arcanjo da guarda do Sepulcro, Vela à noite por nós, E banha-se em suor o travesseiro, E além geme nas franças do pinheiro Da brisa a longa voz... Quando sangrenta a luz no alampadário Estala, cresce, expira, após ressurge, Como uma alma a penar; E canta aos guizos rubros da loucura A febre — a meretriz da sepultura — A rir e a soluçar... Quando tudo vacila e se evapora, Muda e se anima, vive e se transforma, Cambaleia e se esvai... E da sala na mágica penumbra... Um mundo em trevas rápido se obumbra... E outro das trevas sai... ...................................................................... Então... nos brancos mantos, que arregaçam Da meia-noite os Anjos alvos passam Em longa procissão! E eu murmuro ao fitá-los assombrado: São os Anjos de amor de meu passado Que desfilando vão... Almas, que um dia no meu peito ardente Derramastes dos sonhos a semente, Mulheres, que eu amei! Anjos louros do céu! virgens serenas! Madonas, Querubins, ou Madalenas! Surgi! aparecei! Vinde, fantasmas! Eu vos amo ainda; Acorde-se a harmonia à noite infinda Ao roto bandolim... .................................................................. E no éter, que em notas se perfuma, As visões s’alteando uma por uma... Vão desfilando assim!...


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