Dorival Caymmi — História de Pescadores

"Esta é uma história de pescadores. É uma história de homens do mar. Para o pescador, o mar é uma sedução. Para o pescador, o mar é também a luta pela vida. Cada um deles carrega uma história no peito. Uma história do seu amor na terra que pode ser tão grande pelo seu amor pelo mar. Mas o pescador quando é chamado pelo sol, ele vai. Vai para o mar, para o peixe. E todas as manhãs, vai cantando um canto de fé onde louva a sua jangada, o seu mar, o seu trabalho. Onde louva também uma eterna esperança de que um peixe bom possa trazer, se deus quiser." Minha jangada vai sair pro mar Vou trabalhar, meu bem querer Se Deus quiser quando eu voltar do mar Um peixe bom eu vou trazer Meus companheiros também vão voltar E a Deus do céu vamos agradecer "Minha jangada vai. É mais um dia da vida do pescador. Mas alguém na terra espera o pescador. Ela promete no seu adeus uma reza pra ter bom dengo pra que ele possa voltar. E promete, na sua volta, uma caminha macia, perfumada de alecrim. Sabiá moça dos encantos e das seduções de Iemanjá. E sabe mais, sabe que o mar é traidor." Adeus, adeus Pescador não esqueça de mim Vou rezar pra ter bom tempo, meu nêgo Pra não ter tempo ruim Vou fazer sua caminha macia Perfumada com alecrim "Mas o pescador não é traído pelo sol, nem pelo mar. Seu maior inimigo é o vento. É o vento forte que derruba sua jangada. É o vento forte que ondula as águas do mar. É o vento forte que mata o homem, que esconde o peixe, que rasga a vela de sua jangada. É o vento forte que faz o temporal. Com tempo desses não se vai pro mar. Quem vai pro mar, não vem." Pedro! Pedro! Pedro! Chico! Chico! Chico! Nino! Nino! Nino! Zeca! Zeca! Zeca! Cade vocês, ó mãe de Deus? Eu bem que disse a José! Não vá José! Não vá José! Meu Deus! Com tempo desses não se sai! Quem vai pro mar, quem vai pro mar Não vem! "Na beira da praia, olhando o céu e o mar, fica os olhos da moça noiva. Rosinha de Chica, a mais bonitinha de todas as mocinhas lá do arraial. E é pensando nela que o pescador vai. É pelo seu amor que ele tem coragem no peito." É tão triste ver partir alguém Que a gente quer com tanto amor E suportar a agonia De esperar voltar Viver olhando o céu e o mar A incerteza a torturar A gente fica só Tão só A gente fica só Tão só É triste esperar "O pescador diz que é doce morrer no mar. A moça noiva, aquela Rosinha de Chica, foi traída. Traída por Iemanjá, a rainha do mar, onde o pescador fez sua cama de noivo, e a jangada voltou só." Uma incelença Entrou no paraíso Adeus, irmão! Adeus! Até o dia de Juízo! Adeus, irmão! Adeus! Até o dia de Juízo "E na manhã seguinte, apesar de tudo, o pescador volta. O mar, peixe, as ondas do mar: Tudo é uma nova esperança." Minha jangada vai sair pro mar Vou trabalhar, meu bem querer Se Deus quiser quando eu voltar do mar Um peixe bom eu vou trazer Meus companheiros também vão voltar E a Deus do céu vamos agradecer "E ele vai. Com a coragem que lhe dá Rosinha de Chica. Seduzido, quem sabe, pelos encantos de Iemanjá, e em busca de peixe bom, se deus quiser."


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