Fernando Pessoa — Fernão de Magalhães

No vale clareia uma fogueira. Uma dança sacode a terra inteira. E sombras disformes e descompostas Em clarões negros do vale vão Subitamente pelas encostas, Indo perder-se na escuridão. De quem é a dança que a noite aterra? São os Titãs, os filhos da Terra, Que dançam da morte do marinheiro Que quis cingir o materno vulto — Cingi-lo, dos homens, o primeiro —, Na praia ao longe por fim sepulto. Dançam, nem sabem que a alma ousada Do morto ainda comanda a armada, Pulso sem corpo ao leme a guiar As naus no resto do fim do espaço: Que até ausente soube cercar A terra inteira com seu abraço. Violou a Terra. Mas eles não O sabem, e dançam na solidão; E sombras disformes e descompostas, Indo perder-se nos horizontes, Galgam do vale pelas encostas Dos mudos montes.


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